Linfedema x Obesidade
Atualmente, não temos dados epidemiológicos definitivos sobre a associação entre obesidade e linfedema, porém é sabido que a obesidade contribui para o aparecimento do linfedema e muitas vezes agrava os sintomas do linfedema já existente
Os mecanismos fisiopatológicos pelos quais o linfedema e a obesidade podem estar relacionados não foi completamente elucidado ainda, acreditamos que o excesso de peso pode ter um impacto negativo sobre o retorno de fluido linfático a partir das extremidades inferiores devido a um desequilíbrio adicional na filtração da carga linfática. A pressão direta sobre os vasos linfáticos por excesso de tecido adiposo podem levar à incompetência valvular, prejudicar a respiração diafragmática e diminuir a função muscular, os quais podem ser fatores contribuintes para a manifestação do linfedema.
Outra teoria especulativa seria que nos obesos mórbidos, o tecido intersticial, ou seja, o tecido linfedematoso, acumula mais gordura que em um tecido não afetado por linfedema, devido os fibroblastos se transformarem em adipócitos (célula de gordura), com isso ocorreria a piora do fluxo linfático.
O nível de gordura de uma pessoa pode ser medida pelo IMC, que significa Índice de Massa Corporal. É uma medida de referência internacional reconhecida pela OMS (Organização Mundial da Saúde). O método de cálculo do IMC é simples e rápido e permite uma avaliação geral para definir se uma pessoa se encontra em risco de obesidade.? Para determinar o IMC, basta dividir o peso do indivíduo (massa) pela sua altura ao quadrado. A massa deve ser definida em quilogramas (kg) e a altura em metros.
Portanto, a fórmula de cálculo é [b] IMC = massa / (altura x altura)
Os dados de referência para um adulto estão indicados abaixo:
< 18,5 – Abaixo do peso
18,5-24,9 – Normal
25,0-29,9 -Sobrepeso
30,0-34,9 – Obesidade Leve (Grau I)
35,0-39,9 – Obesidade Severa (Grau II)
> 40,0 – Obesidade Mórbida (Grau III)
O excesso de peso, especialmente a obesidade mórbida podem contribuir para o aparecimento de linfedema primário e secundário envolvendo as extremidades inferiores.
Estudos sugerem que o risco de desenvolver linfedema após a cirurgia de câncer de mama pode ser superior a 60% em mulheres com índice de massa corporal (IMC) classificado como sobrepeso ou obesa, em comparação com mulheres com peso normal. Os pesquisadores também relatam que o risco de linfedema aumenta se a cirurgia envolver o lado dominante, ou se aparecer inchaço pós-operatório. Em pacientes submetidos à linfonodectomia (retirada linfonodos) inguinal a prevalência varia de 1 a 49%, e é de 3,6 % se for linfonodectomia pélvica, segundo dados do Sloan Kettering Memorial Hospital de Nova York, um dos centros de tratamento contra o câncer mais importante do mundo.
A insuficiência venosa crônica (IVC) é muitas vezes associada com a obesidade e o aumento da carga sobre o sistema linfático em uma pessoa cm IVC pode desempenhar um papel significativo na manifestação da linfedema nas pernas.
O sucesso do tratamento do linfedema pode ser seriamente prejudicado em pacientes com um IMC elevado. Em pacientes obesos é mais difícil aplicar as bandagens, assim como vestir as malhas compressivas. Além de que as bandagens e meias compressivas têm uma tendência para deslizar do membro em pacientes obesos prejudicando o tratamento e adesão ao mesmo. Para esses casos meias ou braçadeiras elásticas podem ser feitos sob medida, porém custam mais que as disponibilizadas prontas.
O exercício miolinfocinético, um aspecto muito importante na gestão de linfedema pode ser negativamente afetado também. A falta de mobilidade por problemas associados a um índice de massa corporal elevado podem afetar os protocolos de exercícios utilizados no manejo do linfedema e o fisioterapeuta deverá adaptar o mesmo para que haja sucesso no tratamento.
O controle de peso e a nutrição adequada são essenciais para o sucesso da prevenção e gestão do linfedema.
Jaqueline Munaretto Timm Baiocchi
Doutoranda em Oncologia FAP- Ac Camargo Cancer Center
Especialista em Fisioterapia Onco-funcional pela ABFO-COFFITO
Especialista em Fisioterapia Oncológica e Hospitalar pelo A.C Camargo Cancer Center
Formação Internacional em terapia linfática EUA- Alemanha- Bélgica
Especialização em Saúde Baseada em Evidência pelo Hospital Sírio Libanês
Especialização em Saúde da Mulher pela USP
Especialização em Acupuntura pelo CBES
Especialização em Fisioterapia Respiratória e UTI pelo A.C. Camargo Cancer Center
Diretora do Instituto Oncofisio
Diretora da clínica Fisio Onco www.fisioonco.com.br
Coordenadora adjunta do ambulatório de fisioterapia vascular- UNIFESP
Vice presidente da ABFO- Associação Brasileira de Fisioterapia em Oncologia